quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Relatório - Portugal cai 12 lugares em ranking sobre igualdade de género


 No espaço de apenas um ano, Portugal tornou-se num país mais desigual entre homens e mulheres, com uma queda de 12 lugares no relatório do Fórum Económico Mundial que publica um índice sobre igualdade de género, no qual os portugueses ocupam agora a 47.ª posição.

“Portugal apresenta uma queda de 12 posições sobretudo devido a uma quebra no rácio da educação primária e terciária, bem como na percentagem de mulheres em posições ministeriais (31% em 2011 e 18% em 2012)”, lê-se no documento apresentado na quarta-feira nos Estados Unidos e que conta com dados de 135 países.

O resultado deste relatório é, aliás, o pior desde 2006 – primeiro ano em que o documento foi publicado e em que o país ficou em 33.º lugar. Em 2007 caiu para 37.º, em 2008 para 39.º e em 2009 para 46.º Em 2010, Portugal conseguiu melhorar e subir para a 32.ª posição, mas no ano passado já voltou a perder em algumas categorias e voltou para 35.º.

Os dados surgem no mesmo dia em que a eurodeputada socialista Edite Estrela lamentou o adiamento, por parte da Comissão Europeia, na terça-feira, da proposta para criar uma quota de 40% de mulheres nos cargos não executivos dos conselhos de administração das empresas europeias, considerando que revela a existência de "preconceito". Contudo, a comissão prometeu voltar ao assunto ainda em Novembro.

Além da posição, o relatório atribui também um índice a cada país que varia entre zero e um (onde um representa a igualdade total) e no qual Portugal conseguiu um score de 0,7071. Para este valor contribui a avaliação feita pelo documento em várias áreas, nomeadamente oportunidades e participação económica, em que o país fica em 55.º lugar. Em termos de educação desce também para 57.ª posição e no campo da sobrevivência e saúde para a 83.ª. A área da participação política é, ainda assim, aquela em que o país tem melhor posição, com um 43.º lugar.

Na edição de 2011, que já denotava uma tendência de queda para o país, referia-se que os factores mais penalizadores para as mulheres portuguesas eram a saúde e os salários, concretamente as “pequenas deteriorações nas categorias de rendimento estimado, igualdade salarial e representação feminina no Parlamento”.

Nórdicos no topo

O topo da lista da igualdade de género é ocupado sobretudo por países europeus, nomeadamente os nórdicos. O primeiro lugar foi atribuído à Islândia, seguida pela Finlândia, Noruega e Suécia. Depois surge a Irlanda e Nova Zelândia. Porém, nos primeiros lugares é também possível encontrar países onde ainda persistem grandes desigualdades sociais, mas que conseguiram grandes progressos na área da saúde, como é o caso das Filipinas e Nicarágua.

À frente de Portugal surgem ainda países como o Lesoto, Letónia, África do Sul, Cuba, Moçambique, Barbados, Uganda, Costa Rica, Bolívia, Cazaquistão, Cabo Verde, Sri Lanka ou Tanzânia. Já a cauda do ranking é ocupada pelo Iémen, precedido de países como Paquistão, Chade, Síria, Arábia Saudita, Costa do Marfim, Marrocos, Mali, Irão e Egipto.

O relatório dá especial destaque aos países nórdicos, onde a igualdade já conseguiu atingir os 80%. As licenças de parentalidade e leis que facilitam a conjugação da família com o mundo do trabalho são os principais exemplos referidos como contribuição para a igualdade entre homens e mulheres e para o peso destas últimas no mercado laboral.

“Os dados sugerem uma forte correlação entre os países mais bem-sucedidos na eliminação da desigualdade de género e aqueles mais competitivos do ponto de vista económico”, diz o relatório. “A chave para o futuro de qualquer país e instituição é sua capacidade de atrair os melhores talentos”, referiu Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial. “No futuro, o talento será mais importante do que capital ou qualquer outra coisa. Desenvolver a dimensão do género não é apenas uma questão de igualdade; é a porta de entrada para o sucesso e a prosperidade em um mundo cada vez mais competitivo”, acrescentou.

Romana Borja-Santos, 25-10-2012 in Público

terça-feira, 9 de outubro de 2012

As mulheres, os negócios e as mulheres de negócios

Portugal é um país machista.

Em Portugal, um país onde a mulher tem de trabalhar, em média, mais 4 meses do que um homem na mesma posição para auferir o mesmo ordenado, num país onde o desemprego sobe galopante (sempre maior entre as mulheres), onde os direitos dos trabalhadores (principalmente das trabalhadoras) são atropelados diariamente, onde o número de mulheres no ensino superior (60,1%) e em doutoramento é significativamente superior ao número de homens (51,6%), sempre me pareceu estranho que haja tão poucas mulheres empreendedoras. Então voltamos à primeira premissa, a de que Portugal é um país machista. As mulheres ainda, em pleno século XXI, são vistas como criaturas frágeis, fadas do lar, entidades de família e de estabilidade. E não são os homens que as vêm dessa forma, é toda a sociedade, mas principalmente elas próprias.

Ser-se empreendedor não é, como os últimos governos nos querem convencer, criar o próprio emprego. Ser-se empreendedor não é uma solução para o desemprego, para a precariedade ou para, finalmente, podermos auferir melhores salários. Ser-se empreendedor é correr riscos. É acreditar em ideias, transformá-las em projectos e ter vontade e força e conhecimento para os pôr em prática, sempre com a perfeita noção de que falhar e perder faz parte do risco. E às mulheres portuguesas nunca ninguém ensinou a correr riscos. Nunca ninguém as estimulou desde tenra idade para jogar e competir. Não acredito na ideia de que as meninas brincam com bonecas, vestindo e despindo, apenas por motivos genéticos. Acredito sim que isto é o reflexo da nossa sociedade ainda muito conservadora em termos de género que estimula desde cedo os rapazes para a competição (jogos activos e desporto) e as meninas para brincadeiras mais calmas, mais seguras, poucas correrias para não rasgar o vestido. A competição, o querer ganhar, o jogo de vencermo-nos a nós próprios e não aos outros é uma condição necessária para o empreendedorismo.

Portugal mudou muito nos últimos 35 anos. Antes de 74, a grande maioria das mulheres portuguesas ficava em casa, tratava dos filhos e das tarefas domésticas de uma forma natural. De um momento para o outro, de uma forma quase abrupta, começaram a sair de casa, a querer mais, a querer ter uma vida activa na sociedade, produzir, criar, ter uma vida profissional independente da vida familiar e em poucos anos as mulheres espalharam-se e ocuparam todas as áreas do mercado de trabalho, provando que a ideia retrograda de que o lugar da mulher é em casa, era só uma amarra e não verdade. Mostraram força, dedicação, esforço, criatividade e capacidade em todas as áreas do mercado laboral. Isto foi uma vitória brutal para as mulheres – uma verdadeira revolução na sociedade portuguesa! Mas esta revolução, como a maioria das revoluções, foi feita demasiado depressa e muitas das promessas ficaram por cumprir. Na ânsia de ganhar espaço no mercado de trabalho, a mulher acumulou as novas funções com as anteriores, não descurando a casa, não descurando as compras e a família, tornando-se a Super-Mulher com 2 empregos. Nos dias de hoje, é reconhecido que a grande maioria dos homens ajuda em casa. Vou repetir – a grande maioria dos homens AJUDA em casa. E nós, mulheres, agradecemos. Agradecemos e achamos que temos mais sorte do que as nossas avós. No século XXI, nenhum homem devia orgulhar-se de dizer que ajuda em casa. As tarefas em casa deveriam ser partilhadas. Mas em 2012, em Portugal, as mulheres trabalham, em casa, para além do seu emprego, mais 17 horas semanais do que os seus companheiros. Trabalham porque precisam de trabalhar, porque a sua educação e o subconsciente colectivo da nossa sociedade continua a ver a mulher como o garante de uma casa confortável, de uma refeição a fumegar em cima da mesa e de crianças com banho tomado e risca ao lado. Porque as mulheres ainda não reivindicaram para si próprias o direito da partilha das tarefas domésticas e ainda se sentem, inconscientemente, culpadas pelo desconforto das meias espalhadas pelo chão da casa.

No entanto, nos últimos anos, o número de mulheres empreendedoras tem aumentado significativamente, sendo já promotoras de 33% das novas empresas criadas. Numa altura em que o culto do empreendedorismo é vendido como a salvação para a crise no mercado laboral, espero que estas grandes mulheres não sejam as vítimas maiores deste discurso enganador e que agarrem a liberdade de liderar os seus próprios negócios com força e vontade e que criem muitas e muitas empresas de sucesso.

Ser-se empreendedor, em Portugal, na actual conjectura económica (o que quer que isto signifique) é difícil. Ser-se empreendedora é um desafio ainda maior e apenas com uma dose de coragem e uma outra de loucura é que se dá o primeiro passo.

Em Portugal arriscar, continua a ser coisa de rapazes e por isso, o empreendedorismo continua a ser coisa de homens.  Enquanto as mulheres não se sentirem iguais, enquanto sobrar para elas, além das horas de trabalho diário, as máquinas de lavar e as compras, as crianças e organização das gavetas, enquanto elas próprias não assumirem que o seu valor não é o reflexo da  limpeza da sua própria casa, não poderão esperar que a sociedade lhes dê a igualdade. Acima de tudo, enquanto as mulheres deixarem que esta imagem delas próprias lhes encurte os passos e limite as opções, não teremos igualdade de género em Portugal.

Helena Gomes

Referências
Instituto Nacional de Estatística - "Estatísticas no Feminino" (PDF)


Biografia
Tenho 33 anos, sou licenciada em Medicina Veterinária, fiz um estágio numa conceituada Universidade Norte-Americana, tenho uma pós-graduação em Medicina Interna de Animais de Companhia e desde Junho de 2011 sou, a tempo inteiro, empresária na área da hotelaria.
Participo neste blog enquanto umas das formandas do Projecto de Empreendedorismo Feminino de Valor Acrescentado da Tecminho, projecto este que me deu as bases para a criação do Braga POP Hostel e espero usar este espaço para expor algumas das minhas ideias sobre as mulheres, o mundo dos negócios e outros assuntos, como o processo da cura do bacalhau. Se por acaso me cruzar com alguma receita de culinária digna de registo, prometo também a partilhar aqui.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Filosofia no mundo empresarial e os jogos olímpicos 2012

Tudo começa no sonho.  E continua no trabalho perseverante. Com os outros.
No acreditar. Que o impossível é muitas vezes temporário e subjetivo.
Que esse impossível que buscamos seja de Verdade e de Bem, para que tenha sentido no tempo e no lugar.
A Filosofia ajuda-nos a pensar sobre o sentido do mundo empresarial (http://en.wikipedia.org/wiki/Philosophy_of_business).
Querendo seguir o norte, preciso de uma âncora, para saber onde estará o melhor bem ou o bem possível. Como qualquer pessoa, qualquer empreendedor/a, qualquer empresário/a que espera do seu papel algo sustentável e útil ao outro.
Foi nisso que acreditei ao criar a alnutri. Que é possível fazer bem, albergar com os outros a nutrição no mundo, descobrindo não as calorias, mas a comida verdadeira e simples.  De alguma forma aprender e recriar o ato ancestral de comer, para o bem a que se destina, acrescido do prazer que se nos oferece.
Fazendo uma ponte para um acontecimento mundial atual, independente do mundo empresarial, mas nele imerso, os jogos olímpicos,  se não fosse pelo acreditar na Paz e no ultrapassar barreiras (http://www.london2012.com/), pelo fazer melhor em cada dia, porquê existiriam?  Apesar dos excessos físicos atléticos ultrapassarem os limites do que é saudável, servem de comparação no ultrapassar de barreiras culturais, pessoais e socias. Uma delas, este ano, foi a da participação de mulheres provenientes de alguns países. Mas, nos jogos olímpicos, também existem polémicas, como as dos patrocínios de marcas quem nem sempre proporcionam estilos de vida equilibrados à população dos países onde operam. Ou estarão elas na procura desse equilíbrio?
Escrevo como interessada pela filosofia no mundo empresarial e na arte de viver. Desejo que esta partilha no blogue seja uma oportunidade de aprendizagem para todas nós e tod@s @s que aqui colocarem comentários. Obrigada!
Sandra Silva Gomes . Alnutri®

terça-feira, 24 de julho de 2012

Um blog de mulheres para tod@s

Este não é um blog qualquer. É um blog dinamizado por 6 mulheres que decidiram ser empresárias. Perguntarão os leitores o que tem isso de especial. Não teria nada se ser empresária em Portugal fosse algo comum, nomeadamente se não houvesse tantas diferenças entre homens e mulheres neste domínio. A maior parte das empresas são criadas por homens. Há certamente vários factores que contribuem para que tal aconteça. Assim, infelizmente, ainda é digno de registo o facto de haver empresas criadas por mulheres. Vamos partilhar aqui as nossas angústias, os constrangimentos, as dificuldades, as vitórias, as derrotas, as estratégias que vamos encontrando para debelar as dificuldades e agarrar as oportunidades. Esperamos que a nossa partilha seja útil e que potencie os vossos comentários, que, certamente, serão um contributo para tod@s.